quinta-feira, 27 de maio de 2010

Forças e Fraquezas

FORÇAS E FRAQUEZAS DA IGREJA
Pedofilia, Um Caso Mal Ajambrado
J. Jorge Peralta

I - ALEGRIA, ESPERANÇA E OUSADIA

1. Falo neste estudo, de uma Instituição admirável e paradoxal: tem forças de gigante e fraquezas e debilidades de ovelha no pasto, vigiada por lobos. Abordo este assunto, excepcionalmente, pois este é hoje um foco secundário em minhas reflexões. Falo por apelo interior, não esperado.
Falo, da perspectiva de um cidadão, a quem tudo o que é humano sempre interessa.
As ideias que aqui exponho são desdobramentos de um longo trabalho que redigi: “Abalos na Igreja, Crise na Humanidade”, publicado no site blogue: www.alfa8omega.blogspot.com/abalos-na-igreja
            Falo, com respeito e ousadia, da Instituição mais antiga do Ocidente, a Igreja de Cristo. A Igreja que tem, como força matriz, a doutrina do Evangelho; uma doutrina que deslumbrou o mundo.
Cristo, na História, foi o ser humano que maior influência exerceu na humanidade, por sua doutrina de valores: a dignidade da pessoa humana, e a interação entre os humanos, com a superação dos egoísmos e da selvageria. Deu ênfase à alteridade: “amai-vos uns aos outros...” Insistiu na cooperação mútua e no altruísmo. Falou por palavras e atitudes. Foi convincente. Teve credibilidade.
Deixou uma mensagem de esperança para toda a humanidade, que estava  nas suas cogitações: “ide pelo mundo inteiro”. Almejou a fraternidade universal. Foi contundente: “Sede mansos...  sede astutos ...” “Saiam (...) vocês fizeram do Templo um covil de ladrões...”
Falo de uma Instituição que, em nosso País, tem uma história de belezas extraordinárias. Um paradigma mundial na construção da sociedade. É uma instituição viva, audaciosa e dinâmica.
            Falo de uma Igreja que, através de sua história, prestou serviços de tal monta à humanidade que bem pode ser considerada o patrimônio imaterial maior de toda  a Civilização Ocidental.
            Ela difundiu no mundo  a lei do amor, a solidariedade, a fraternidade, o respeito mútuo, a naturalidade e a espiritualidade. Alegria e esperança é a sua bandeira, na tempestade e na bonança.

2. Mas a mesma Igreja, em contradição com os princípios do Evangelho,  por fraqueza de seus representantes, também foi responsável por crimes bárbaros e execráveis, como as tristes tragédias da Inquisição e outras mais...
São os vícios humanos se aproveitando de uma Instituição de alta credibilidade, traindo seus princípios fundamentais. Consideraram-se seus donos e não seus serviçais. Daí o escândalo, os estragos e as dissensões.

            Falo aqui, de uma igreja sempre em crise, como toda a natureza viva e  como tudo que é humano; tem momentos de Primavera e momentos de Inverno.
           
Na Terra, a igreja não é composta por anjos, mas de seres humanos, com as fragilidades que lhe são próprias.
            Quando, por algum equívoco, quiseram considerá-la feita, perfeita e imutável, aumentaram suas crises, seus paradoxos e suas dissensões. A Igreja vive, naturalmente e sofre as agruras do seu mundo, porque é solidária com ele.
Diante de grandes embates, consegue manter-se de pé. É muito mais forte que seus “algozes”. Mas a Igreja não existe para vencer ninguém. Existe para convencer  as consciências e para  fazer irmãos. A força  da Igreja  é  a  Palavra e o Testemunho.
            A Igreja, como toda a natureza viva, vive seu percurso: um movimento de mudanças permanentes, adaptada aos ciclos vitais do universo. O transitório muda e o essencial permanece.
Vive tempos sucessivos e contínuos de Primavera, Verão, Outono e Inverno. Tempos de Natal e Epifania; Morte e Ressurreição; de Pentecostes e Difusão; de Consolidação, Fraquezas e Perseguições. Num mesmo tempo podem  ser vividas as quatros estações, pelos quatro cantos do mundo. Esta é a condição da vida entre os humanos.

3. Quero, aqui, realçar as forças dinâmicas da Igreja, que na sua matriz perene, sustenta-se na mutação, na diversidade e na adversidade.
          A Igreja nunca será uma instituição acabada. Ela se faz a cada dia. Sofre a cada dia as dores da vida. É uma Igreja composta e gerenciada por humanos e na por anjos. Precisamos reconhecer e aceitar esta condição.
Sofre as muitas fraquezas de muitos dos seus filhos, dos mais simples aos mais altos da hierarquia.
Numa sociedade doente, o vírus pode ferir todo e qualquer humano.
É natural que assim seja, como é natural que sempre rejeite o mal e opte pelo bem. Questão de opção... Questão de consciência...
Ninguém pode se espantar se um ou outro  eclesiástico  cometer algum deslize. É natural, numa instituição de humanos, numa sociedade doente.
 Padres, Bispos, Cardeais e até o Papa, podem errar. É bom que assim reconheçam. Faz parte da condição humana. Mas a Igreja jamais poderá compactuar com o erro. Deve pois detestá-lo e  corrigir os culpados. A impunidade é a mãe de todos os vícios, diz-se.
A alegria e a esperança sempre brilham no rosto da Igreja, nas mais desencontradas ou auspiciosas circunstâncias.
Esta é a  minha Igreja: tão humana que é divina e tão divina que é humana.

II – PEDOFILIA, CONSPIRAÇÕES E RENOVAÇÕES

4. Por tudo isto, é muito estranho o escândalo que se levantou, contra a Igreja,  porque foram  detectados casos de pedofilia, entre uns poucos padres da Igreja. Não foi levado em conta que a Igreja  vive a crise  e as dores e horrores de nosso mundo  desconcertado e às vezes  desconcertante.  
A Igreja é vítima e não culpada, nos casos de pedofilia que vitimou alguns de seus pastores.
Não é a Igreja que está em crise, no caso da insólita  pedofilia. Quem está em crise  é o mundo onde está a Igreja. A crise não está vegetando na igreja. Está vegetando no mundo  e por tabela, atingindo também alguns, muito poucos, membros frágeis da hierarquia da Igreja, em meia dúzia de países.  Uma parte mínima do clero... Mas um só caso já merece toque de alarme e tomada de decisões preventivas.
Num mundo onde se registram mais de quinhentos (500) casos de queixas de agressões pedófilas, por dia, os casos que atingiram a Igreja são, estatisticamente de valor nulo. Nem por isso a Igreja pode deixar de corrigi-los e puni-los.
A pedofilia é hoje uma praga social, atingindo centenas de  meninos e meninas, diariamente, por todo o mundo.
Em alguns países árabes, a prática é socialmente aceita, havendo “casamento” de adultos com meninas de 4 a 10 anos (?!).
Moralmente a sociedade, nos últimos 50 anos, foi atingida por “doenças” anômalas.
Corrijam-se os casos ocorridos na Igreja, mas sabendo que a Igreja é vítima de uma sociedade que vai perdendo princípios norteadores e se desgovernando. A sociedade, hoje,  já pede socorro, por tantos desmandos...

5. Mais grave ainda do que os casos eventuais de pedofilia, é o tratamento que a imprensa “sensacionalista” deu ao caso, agredindo escandalosamente a Igreja Católica, com insultos e injúrias, numa atitude persecutória  e discriminatória, que alguns classificaram como conspiração.
A notícia dos casos raros de pedofilia, na Igreja, foi trombeteada pelos quatro cantos do mundo, 24 horas por dia, em milhões de meios de comunicação. Uma verdadeira campanha de desacreditação: claramente uma conspiração muito bem articulada, em alguns centros de elaboração e seleção de notícias e de orquestração de pauta.
Certamente abalou a credibilidade da Igreja  em milhões de ouvintes. Quase uma chacina moral...
Não menos grave foi o tratamento  inábil que a Hierarquia Superior da Igreja deu aos fatos. Deixou-se acuar, por falta de visão de conjunto, contaminada por ideologias políticas espúrias, que não respeitam a presença da Igreja na Civilização e aproveitaram o ensejo para  tentar desmoralizá-la.
Não é a primeira vez que a vítima e julgada culpada.

6. No entanto, eu considero que mais importante do que as ocorrências da deplorável pedofilia, é que a Igreja aproveite o momento de “crise”, que a Providência lhe oferece, para repensar sua mensagem, suas estratégias e sua atuação, no nosso mundo atual, sem máscara  e sem retoque.
Nunca o mundo precisou tanto da Igreja, do Evangelho, como em nossos dias.
No trabalho citado no início do texto, enviado aos diversos  departamentos da CNBB, no dia 06.05.2010, faço umas dez propostas formais de revitalização da Igreja. Confira. Posicione-se.
A Igreja precisa aproveitar o grande abalo que acaba de receber, para rever sua estratégia  de Evangelização. Terá muita, muita coisa, para reconsiderar. A Providência convoca. Dizer não é deserção... “Por uma omissão perde-se uma nação”, diz o Grande Vieira.