quinta-feira, 22 de julho de 2010

        CARMEN MIRANDA
         Patrimônio da Lusofonia
J. Jorge Peralta
            Carmen Miranda, a Pequena Notável, que Portugal está revendo em grande exposição, em Lisboa, está sendo vítima de trapalhadas americanas.
            Dela falamos em crônica, anterior:
Como quase tudo que é brasileiro e português, os herdeiros dos direitos da imagem da célebre cantora e artista, e os seus amigos, não souberam divulgar o nome como merece, mantendo-a viva na alma do povo.
Herdeiros?! Artista deveria  ser declarado Patrimônio Imaterial  Nacional. A Nação deveria   zelar por seu nome, sua imagem e sua divulgação.
Rui Castro escreveu a s melhor biografia, de Carmen Miranda, que, podia ser mais cuidada.
Assim mesmo valeu.
Agora um americano quer fazer  um filme da artista. Boa ideia?! Talvez, desde que respeite a identidade da personagem.
Parece não ser o caso. A figura brasileira de Carmen Miranda, desde  o título, está passando, por dançarina Cubana ou Mexicana, que fala espanhol, como diz Rui Castro.
Ao menos o roteiro do filme é uma afronta à Lusofonia. O nome previsto do filme é “Maracas” que tem pouco a ver com a artista.
Carmen Miranda, como bailarina Cubana ou Mexicana?! Nunca. Nada contra os Cubanos ou contra os Mexicanos. Apenas  a cada um  o que é seu. Carmen Miranda é nossa. É patrimônio da Lusofonia. É uma artista  de primeira grandeza. Quem a conhece, sabe.

Infelizmente, os americanos não conhecem o Brasil e os Brasileiros.
De América Latina só conhecem seus vizinhos mexicanos e cubanos.
A Lusofonia não chegou aos EUA. Lastimavelmente.
Carmen Miranda precisa ser lembrada, com sua identidade autêntica, falando português...
O cineasta pode fazer a artista a seu modo, desde que respeite o modo de ser dela mesma.
Que os herdeiros e guardiões do nome de Carmen Miranda e da sua imagem saibam exigir, do cineasta americano, respeito à história da artista e respeito à Lusofonia. Isto é essencial. Que saibam fazer reviver Carmen Miranda e já terão um grande mérito.
Se o americano quer fazer o que os empresários do ramo, no Brasil e em Portugal, não conseguem fazer: Um Grande Filme de Arte sobre Carmen Miranda, que seja bem-vindo o americano.
Mas que seja bem assessorado par anão falsear a identidade de nossa artista.
Carmen Miranda, há muitos anos, deveria estar nas telas, com todo o seu peso, valor e sedução.
É uma artista descomunal, para quem souber ver fundo, semioticamente o que ela representa em nosso espírito, em nossa alma e em nossa cultura.
Carmen Miranda é uma marca  indelébel da brasilidade, naquilo que o brasileiro tem de melhor e de eterno, sem as banalidades que lhe atribuem.
Há outro projeto, no Brasil, para levar a história de Carmen Miranda às telas. Mas não prossegue. Compromissos devem ter prazos  de validade...
Que façam quantos filmes quiserem, desde que sejam leais à artista, aos seus valores e à lusofonia,  e tenham qualidade digna de se ver. Essa  deveria ser a norma.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Futebol e coesão nacional

FUTEBOL
E A COESÃO NACIONAL

J. Jorge Peralta
1. O Jogo Acabou! Viva o Brasil          
A Copa acabou, para o Brasil, hoje. Jogamos o jogo. Viva o Brasil!
A vida é assim; Um dia se perde outro dia se ganha. Ganhou o Espírito de luta! A vida continua no seu percurso normal, mas algo mudou.
Outros também precisam ter a sua vez. O sol nasceu para todos. Que vençam os melhores. A Copa é um grande paradigma da vida real; uma bela metáfora.
Mas que vençam os melhores, sem vergonhosas trapaças... e politicagens. Não queremos  navegar nessas águas turvas...
A Copa do Mundo pode ser  palco para novas reflexões.

No Brasil, algo acontece de extraordinário. Nos dias de Jogo do Brasil, na copa, o País, literalmente, pára.
Em São Paulo, o maior complexo urbano do Ocidente: (a Região Metropolitana da Grande São Paulo, uma área conurbanizada contínua, de 20.000.000 de habitantes), essa realidade unânime  é mais notória.
Nos dias de jogo tudo pára. As ruas, avenidas e praças ficam quase desertas, com muito menos carros e gente do que nos domingos e feriados. Pára o comércio, param as indústrias, pára tudo.
São Paulo não pára de  trabalhar. Só em tempo de Copa, cada quatro anos. Éh, meus amigos, para os pragmáticos eu aviso: Nem só de pão vive o homem!

É impressionante. Toda a gente está atenta ao desenrolar do jogo. Todos se alegram ou entristecem juntos. As grandes jogadas levam todos ao delírio. É uma catarse coletiva... Emocionante... É coisa bela, coisa de se ver.

A Bandeira do Brasil tremula, altiva, por toda a parte. Nos grandes prédios, como em casebres de favelas, tremula alegre e soberana a Bandeira Nacional. Há bandeiras imensas penduradas em prédios. O Brasil é um só corpo e um só espírito. Os corações batem em uníssono. A Copa do Mundo, a cada quatro anos, é o denominador comum de onde emana uma força estranha.
É alegria geral. Se ganhamos comemoramos, se perdemos... Também. Alguns ficam com cara de velório... Ninguém gosta de perder. Ninguém fica indiferente.

2. A Copa faz Bem à Gente
Minha gente, a Copa faz bem à saúde da nação. Faz bem a toda a  gente.
faz mal quando políticos oportunistas se aproveitam para colar, em si próprios, os méritos da nação, para se perpetuar no poder. Mas até isso todos relevam.
A Copa é tempo de perdão e de  fraternidade, sem discriminação.

Em tempo de Copa, como nos outros tempos, no Brasil só há brasileiros: com uma única etnia (?!) e uma única cor de pele: somos todos morenos, todos miscigenados, culturalmente. No genérico moreno estamos os brancos, os negros, os morenos, os amarelos e os vermelhos: as cinco raças do mundo. Cinco sim senhor!
O milagre do Brasil, este País Tropical, é que, na alegria e na tristeza, todos se irmanam, todos são solidários, sem distinção de raça, sexo ou condição social. Somos todos iguais neste país plural e multirracial. Neste país tropical.
No entanto, aqui temos gente de todas as raças que cultivam seus valores próprios, sem prejuízo da unanimidade nacional. É a realização do princípio: Unidade na Diversidade.

Circo, Bola

BOLA, CIRCO, PÃO E HONRA
Na Lusofonia
J. Jorge Peralta       

1. Ainda como reflexão sobre o Brasil na Copa do Mundo, acrescento:
Diziam os Romanos, na Antiguidade, que o povo quer “circo e pão”.
Dêmos-lhe circo e pão, mas nem só de “circo e pão” se faz um país grande e justo.
Não podemos usar o futebol e a Bolsa Família/Esmola para anestesiar todo um povo, amortizando-o, enganado, desiludido, acomodado, dependente como tetraplégico, e sem futuro. Um povo desiludido é um povo triste. Estamos chegando lá... Queremos um País livre, forte e próspero.
Além do Circo e Pão = Futebol e Bolsa Esmola, precisamos mais e melhor educação e  cultura, mais trabalho para todos e caça aos corruptos,aos desonestos, aos mafiosos, às quadrilha de aloprados, assaltantes da moral, da política, da honra, da cultura e dos bens de quem trabalha de sol a sol. Esses aloprados que hoje estão refestelados em prédios oficiais recebendo benesses por cargos que não passam de  trapaças.
Alguns dizem que o futebol é o ópio do povo. Eu diria: depende. No entanto, mais ópio do povo são as promessas e as trapaças de muitos de nossos políticos, com seus discursos sedutores e vazios e os discursos falaciosos de algumas “religiões” mercenárias que prometem o que não podem dar e ainda cobram por isso.

2. Gritemos de alegria pelo bailado da bola, rolando nos gramados, em grandes jogadas. Mas não silenciemos diante de tantos e tão torpes escândalos de nossos políticos e outras gangues...
Na luta aguerrida dos gramados, precisamos aprender a reagir contra a falta de boa educação e de saúde dignas da nação, a que ela tem direito, e lutar contra os gastos indecentes, de interesses escusos, contra as falcatruas e contra os impostos escorchantes e o abuso do preço da gasolina que não deixam  o país se desenvolver, na medida de suas potencialidades. É preciso dizer bem claro que quem sabe gastar bem o dinheiro é quem o ganha e não quem o recebe, sem mérito e depois o desperdiça. Impostos sim. Mas só os necessários. Que voltem ao povo em benefícios coletivos. O imposto é do povo e para o povo e não do governo. É da coletividade. O governo é apenas o gestor.

3. Enquanto o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) não estiver equiparado ao Desenvolvimento Econômico, os dois em torno da 10ª colocação, o país vai mal. O Brasil é a 7ª ou 8ª Economia do Mundo e seu IDH está num vergonhoso e constrangedor 73º lugar. O potencial econômico do país, não está beneficiando o potencial do Desenvolvimento Econômico não se refletir no desenvolvimento humano, o Brasil com todo os seus encantos, é um país claudicante e capenga.

4. Os princípios que aqui adotamos, valem para toda a Lusofonia, que queremos grande e forte, honrada e próspera, com um povo orgulhoso de seu país, de seu governo e com boa educação e bem-estar.
Ainda acredito que não há ninguém, no belo e promissor mundo lusófono, que não queira cooperar na limpeza de nossas políticas e de nossos políticos.
Todos queremos uma lusofonia de cara limpa e um povo honrado, trabalhador, confiante, responsável, sagaz, desenvolvido, soberano, atento e orgulhoso de seu país, com prosperidade, qualidade de vida e bem-estar social.
Mas não esqueçamos nunca:
“A garantia da Liberdade é a perene vigilância”. Os descuidados já são trapaceados. “A Justiça não protege os sonolentos”.
“Quem não é organizado é tutelado”.


quarta-feira, 23 de junho de 2010

saramago

SARAMAGO
Um Labutador ou um Provocador?
J. Jorge Peralta

Defendeste a pátria? Cumpriste o teu dever.
A Pátria foi ingrata?! Fez o que costuma fazer
.”
(P. Antônio Vieira)

            1.  Um Homem Paradoxal
O aguilhão de Saramago talvez nos faça falta. Poderemos não concordar com ele, em algumas de suas diatribes polêmicas, no entanto, não podemos negar sua coerência de homem livre. Por outro lado, ele carregou consigo um grande mérito: Suas posições políticas, como cidadão, não interferiram em sua obra: não fez literatura partidária.
Politicamente, no entanto, teve atitudes, para muitos, abomináveis. Ninguém é perfeito... Até dos seus erros podemos tirar ensinamento.
Saramago com sua vida e obra, com seus defeitos e virtudes, estará no Panteão da Lusofonia, quer queiramos quer não.
No Panteão da Lusofonia não cabem ódios nem rancores. Saramago não colocou ódios ou rancores na sua obra. O tempo o absolverá de seus erros políticos. Restará sua obra. Esta o elevará.
Acredito que está na hora de Portugal redescobrir Saramago, sem preconceitos, como um de seus filhos amados, apesar dos pesares.

2. Saramago foi um homem e um artista que teve como seu grande mérito, o seu esforço por acordar a sociedade de certa letargia: provocou as pessoas para que refletissem, em busca da consciência do ser. A rejeição que ele teve faz parte dessa tomada de consciência...
A incredulidade que ele tanto propagava, acredito que faz parte de seu processo de provocação à sociedade para que sua fé não seja em decorrência de uma tradição formal, da inércia e de uma vontade de ser igual e de não destoar do meio em que convive.
Talvez uma afronta, subconsciente, ao “pensamento único” e “inquestionável” que move ações e atitudes, mas não move corações, convicções e sentimentos coerentes, e conscientes.
Não move o espírito.
Suas polêmicas acordaram muita gente. Ribombaram como trombetas...
Mas as pessoas não gostam de ser “perturbadas”, como os homens não gostam de ir ao médico.

Mesmo quando acusou Deus e todas as religiões, por todos os males e misérias do mundo, por todas as guerras e maledicências, provocando um grande terremoto de agressões e contestações e constrangimentos, acredito que foi mais um ato provocativo de bom resultado. Fez as pessoas pensarem e reagirem. Despertou consciências.
Acordou os que estavam sonolentos, “estagnados”, no átrio das igrejas.
Ajudou a curar a cegueira de muitos...
Até o seu último romance, “CAIM”, com todas as suas inconsistências, foi uma obra que, socialmente, deixou um saldo positivo. Provocou uma grande corrida à Bíblia, para conferir os textos originais...

3. Sejamos Críticos, mas não Injustos
Podemos e devemos ser críticos, mas não injustos. Não podemos demonizar as pessoas.
Podemos não concordar em tudo o que Saramago agitou, mas não podemos deixar de reconhecer o valor de sua lealdade a princípios, até quando abala alguns dogmas da Igreja. Até quando venerou o “bezerro de ouro” do poder despótico e deletério de seu país, que nos causa repugnância.
Naturalmente podemos discordar de muitas de suas posições, mas não podemos deixar de dar valor à sua bela história humana.
Tanto política como literariamente, Saramago foi um homem coerente. Nunca temeu perder leitores com suas atitudes. Isto ninguém pode negar. Foi um homem de coragem. Ao contrário de muitos que o criticaram...
Saramago foi um homem simples. Um homem dedicado à sua obra.

4. Vai-se o homem, fica a obra. Devemos perdoar-lhe (?!) alguns de seus eventuais desvios, mas não podemos de deixar de apreciar o difícil percurso, seguido por um homem humilde de nascimento, que conseguiu subir todos os degraus da fama e encantar milhões de pessoas, com mérito e qualidade. Saiu do anonimato, para se projetar na história, como um vencedor que, com sua obra literária, deixou o mundo mais belo.
Acredito que não vendeu sua alma ao diabo... Se vendeu, recuperou-a.

Já vi pessoas lendo Saramago nos lugares mais inesperados, como em praias do Brasil, em banco de praça e nos metrôs de Lisboa... etc, etc.
Foi um grande escultor da frase e um genial contador de histórias.
Diz uma grande crítica literária brasileira:
Com ele, a Língua Portuguesa readquiriu, ao mesmo tempo, a majestade de um Vieira, o humor de um Eça de Queirós e a beleza poética de Pessoa prosador” (Leyla Perrone-Moisés).
Chico Buarque fala de Saramago como “um ser humano admirável, um escritor imenso, um zelador apaixonado da Língua Portuguesa”.

Sei que estas ideias são uma reviravolta naquilo que muitos pensam em Portugal sobre Saramago.
Precisamos repensar sempre nossos conceitos, quando surgem novas luzes. Não nos fechemos à luz, como as ostras.

5. Saramago no Brasil
José Saramago tinha profunda estima pelo Brasil, que muito admirava.
No Brasil tinha e tem muitos milhares, talvez milhões de admiradores. Aqui veio muitas vezes. Sentiu o coração do Brasil palpitar no ritmo e com a força do coração português. Era e é o autor mais vendido da etiqueta literatura estrangeira. Aqui falou sempre bem de Portugal.
Do Brasil dizia:
Somos gente da mesma família,
de uma mesma língua,
de uma mesma cultura que é, embora diferente, a mesma”.
Para ele, o Brasil e Portugal estavam fadados a viverem unidos.
Saramago sempre se sentiu muito bem, entre os brasileiros, que retribuíam com grande carinho. O Brasil é um novo Mundo.
No Brasil encontrou o céu em vida. Foi muito amado, aqui. Porque ele era muito bom. Mas nem todos souberam ver o que ele nos oferecia...
Em Portugal Saramago foi muito antipático. Isto é questão circunstancial; não diminui o valor de sua obra e de sua vida.
Precisamos apreciá-lo com certa objetividade, desapaixonadamente, para não sermos atropelados pela história. Saibamos que a realidade tem muitos ângulos, e não só um.

6.  Saramago vai ao Paraíso
Até Deus Pai, lá do Céu, quando Saramago chegou, foi recepcioná-lo à porta, junto com São Pedro, o homem das chaves.
Deu-lhe as boas vindas, com um grande abraço.  E ele encabulado... sem dizer nada...                                    
Tinha aqui na terra, falado muito mal de Deus e do seu Cristo! O Pai logo atalhou: filho, eu ausculto os corações... Quando falavas mal de mim, criticavas o que eu não era e não a mim. Criticavas porque amavas o que eu sou. Eu sou justo e generoso. Sou a Sabedoria.
Muito do que fizeste, às vezes por caminhos tortuosos, fez as pessoas pensarem e acertarem suas vidas. Tiraste muita gente da monotonia e da inércia.
As pessoas te criticavam mordazmente e com razão; mas fizeste-as pensar. Já te deram a pena que mereceste.
Vem comigo. Também aqui terás por missão provocar, em todos, um sorriso largo, com teu humor e teus paradoxos. Precisamos inovar sempre... Precisamos despachar mais sinais de esperança para teus irmãos, lá na terra de onde vens.

            7. O Grande Legado de Saramago
A vida e a obra de Saramago, o segundo Prêmio Nobel da Língua Portuguesa, têm algo de monumental que apela à nossa consideração.
[Nosso primeiro Prêmio Nobel foi o Médico, Dr. Egas Moniz, (1949). Um grande  homem.]
Quaisquer que sejam as nossas apreciações, Saramago é um imortal, em dimensões de literatura universal.
Saramago saiu da vida e entrou na história.
Na história ele continua vivo, em outra dimensão. Ninguém conseguirá tirar-lhe o que lhe pertence. Os méritos são dele.
Seus críticos vão e ele fica.

Agora cabe a nós fazermos a nossa lição de casa, sem preconceitos e sem simplismos.
Compete a cada um de nós detectar onde está os melhores tesouros que nos legou.
Se soubermos olhar, apesar dos percalços, o saldo é muito positivo. Merece o nosso apreço e a nossa consideração.
A posteridade, apagados os erros de percurso, saberá lhe fazer justiça, enaltecendo a sua imagem.

Não podemos repetir o que o país tradicionalmente fez com as pessoas que mais se destacavam no seu povo. Estas, de praxe, são renegadas por seus contemporâneos. O P. Antônio Vieira, um dos maiores ou talvez o maior sábio do século XVII denunciou este costume execrável, de que ele quase foi vítima.
É de Vieira esta frase constrangedora:
Defendeste a pátria?
Cumpriste o teu dever.
A Pátria foi ingrata?!
Fez o que costuma fazer.”
Lembremo-nos de que Camões, se não fosse a dedicação de seu escravo, teria morrido de fome. E que Pessoa também foi rejeitado por muitos, no seu tempo. Vieira, se não fosse tão sagaz, teria sido queimado pela Inquisição, e foi uma das maiores inteligências da História de Portugal e do Brasil, de todos os tempos.
Aguardemos o que o futuro dirá de Saramago. Ele ainda está muito vivo. Como estará daqui a 50 anos? Se ele merecer a glória, glória terá.

Nota: As fotos de José Saramago foram adaptadas do Jornal “Folha de São Paulo”.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Sê Rei

[Para ampliar, clique na imagem]

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Maratona

O MENSAGEIRO DA MARATONA
Quem tem o que dizer não pode calar-se

- Reflexão Preliminar -
J. Jorge Peralta

1
A VERDADE COMO CONDIÇÃO

Quando elaboramos certo trabalho é como quando plantamos árvores: Queremos que dêem sombra e frutos. Esforçamo-nos para que as pessoas tomem ciência  dos argumentos e reflexões que propomos. Mas o que propomos  não é nosso. Então compete a todos incrementar tais propostas, se forem realmente justas e  oportunas.
Certos anacronismos já foram longe demais. Fizeram estragos avassaladores...
O texto, “Abalos na Igreja, Crise na Humanidade”,  em alguns momentos, é abertamente  contundente, mas procura ser sempre muito cordato. Quer pensar junto. Expõe mas não impõe; nem claudica.
            Defende princípios, defende o bem da humanidade, defende uma visão espiritualista e humanista  da vida, numa posição plural.  Defende a Igreja  do Evangelho, como algo de extraordinário, no mundo. Propõe a sua revitalização permanente.
Considera que a Mensagem do Evangelho parece que, para muitos, virou rotina. No entanto, ele deve ser lido com o mesmo deslumbramento de quem observa, pela primeira vez, o esplendor do alvorecer do sol, em manhã de Primavera.
            Propõe um diálogo franco, leal e aberto.
Vivemos em tempos belicosos. Os contrastes e conflitos estão à flor da pele. Todas as grandes ideias e valores da nossa sociedade estão  na mira dos novos “comandos” ou de novas patrulhas. O que é indefensável deve ser descartado antes de desmoronar. Criticar o que é criticável é uma obrigação de quem sabe o que diz e faz.
Precisamos vencer o dogmatismo vazio de muitas autoridades. Pensar com responsabilidade e ousadia  é dever de todos. Precisamos estudar, estudar, estudar e ter a mente atenta. Denunciar ideias anacrônicas é atitude digna de gente generosa.  Negar o diálogo franco é autoritarismo anacrônico.
Criticar com lucidez é somar e multiplicar e não diminuir e dividir. O poder não exime a pessoa de errar. Criticar uma instituição, ou pessoa , não é necessariamente  desrespeitá-la. Respeitar alguém não significa  obrigar-se a uma aprovação irrestrita do que ele pensa e faz. Respeito é lealdade e verdade e não bajulação. É a verdade que constrói.
As pessoas de boa vontade não podem ter medo de ter opinião e de expressá-la. É a verdade que liberta.
Quem tem algo para dizer não pode se calar. Mas precisa ser razoável e respeitador.
O que falo aqui pode incomodar alguém. É condição natural. Não é possível agradar a gregos e a troianos. Quem a todos quer agradar, a todos desagrada, por falta de sinceridade. A pessoa  que trouxe a Mensagem mais revolucionária da história, agradou ao povo, mas desagradou a certos mandatários que foram à desforra no Palácio de Pilatos.
É sabido que a estrada da vida tem naturais tortuosidades...

2
MUDANÇA SIMPLES E ARROJADA

Na década de 60, quando trabalhei na CNBB – SP, como técnico, fui chamado pela equipe de Liturgia, dirigida, por Frei Luiz Gonzaga, um sábio franciscano, para participar da equipe de reformulação do Ritual do Matrimônio, dando-lhe uma linguagem mais atual.
Na redação final, a ser apresentada  ao episcopado, consegui que todos  concordassem, após muitos debates,  com uma mudança substancial: troca da fórmula clássica: “Até que a morte nos separe”, por:  “por toda a vida”,  uma fórmula  alegre, jovial e profunda. Fui convocado para, numa reunião do episcopado, discutir, juntamente com Frei Luiz, as alterações propostas.
Fomos sabatinados com muita seriedade.
As questões mais intensas foram sobre a mudança da fórmula  clássica e central , já citada. Defrontamo-nos com argumentos difíceis e complexos. Argumentei que “por toda a vida” é mais intenso do que “até que a morte  nos separe”. Que o amor é mais forte que a morte... Que Cristo veio trazer vida, etc, etc. O óbvio...
Ao final da sabatina, retiramo-nos, meio receosos de que a mudança não passasse... Todos achávamos a solução luminosa. Não queríamos que se perde-se. Não se perdeu.
 No dia seguinte recebi, comovido, um grande abraço de Frei Luiz, cheio de alegria: “O Novo Ritual foi aprovado...”. A vida venceu a morte, pensei. A igreja está rejuvenescendo...
Hoje, em todo o Brasil, e quero crer que em todos os países de Língua Portuguesa, é com essa fórmula que se chega ao ápice da Cerimônia Religiosa do Ritual de Casamento Católico. (“Por toda a Vida”)
Alegrei-me , discretamente, e continuei  o meu trabalho com a equipe. Foi um dia de muita alegria, como, aliás, todos eram. Vi muitos momentos assim... discretamente emocionantes...

Deste fato, tão simples, em si,  eu me convenci de que, em questões
sérias, nunca devemos falar gratuitamente, sem pensar. Mas, por outro lado, ideias bem pensadas e amadurecidas, não devemos nos acanhar de as propor à sociedade e a quem de direito. “O Espírito fala onde quer”.

           
3
TRAJETÓRIA DE UM TRABALHO RESPONSÁVEL

Este texto, “Abalos na Igreja”,  foi um trabalho intenso de mais de dois meses. Alegro-me porque o escrevi. Acredito que estou fazendo a minha parte, prestando serviço à humanidade. A Igreja representa uma parte significativa da humanidade.
Se a Igreja melhorar sempre, o mundo ficará muito melhor.
Precisamos cuidar mais da mensagem do que dos dogmas. Dogma sem Mensagem não diz nada.

            Este trabalho foi enviado na primeira versão, na 5ª Feira Santa - 01/04/2010, a diversos Departamentos da CNBB e a outras autoridades.
Recebi estímulos fortes e nenhuma “censura” nem  velada. De Lisboa, de um sábio Pe. Jesuíta, vieram-me os mais fortes apoios e estímulos. Os pastores teólogos têm mais sensibilidade. São mais atenciosos. Não são arrogantes. Mas os grandes teólogos também  podem ser bons pastores.

Prossegui o trabalho. Enviei-o, mais aperfeiçoado, a diversos Departamentos da CNBB, no início da última Assembléia Geral (4 a 13 de maio de 2010). Os Bispos são pastores e gestores. Precisam ouvir, mas podem não ouvir. Precisam de muito saber e mais sabedoria.
Sei que o trabalho que enviei exerceu alguma influência.
Diz Vieira que  o lugar privilegiado de o demônio se  refestelar é nas igrejas. Ele vai se imiscuir, disfarçado, entre os bons, para desviar-lhes o caminho...
É nas boas searas que o inimigo gosta de espalhar a cizânia.

Isto novamente me diz que a Igreja é, sim, o Povo de Deus e que “tudo vale a pena quando a alma não é, pequena”. Devemos falar, “oportuna e inoportunamente”.(II Timóteo 4,2).
A Mensagem não é nossa. Devemos repassá-la ao destinatário.

4
CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS ESTIMULANTES

Na Igreja, como em todas as Instituições, políticas, culturais ou religiosas, há “alas” distintas com posições eventualmente conflitantes, em termos de estratégias. Há também os que querem a Instituição imutável, com receio de perder vantagens pessoais ou grupais, ou com medo do mar tempestuoso...

Assim, certas afirmações  que marcam posicionamento, são rejeitadas por uns e exaltadas por outros. A unanimidade real é difícil e nem sempre é conveniente.
Todos os posicionamentos precisam ser considerados para que a Instituição não encalhe... Nem se quebre no próximo rochedo. A Igreja viverá sempre num equilíbrio instável, como tudo o que tem vida. As convergências e as divergências sempre nos acompanham.
Quando temos algo a dizer, não temos direito de nos calarmos. Mas precisamos ter convicção e sobriedade.
Precisamos  ser cuidadosos e fiéis como Mensageiro Filípedes,  após a batalha de Maratona, na Grécia Antiga.

5
PERSPECTIVAS

É com estas ideias que convido o leitor a ler este trabalho: “Abalos na Igreja, Crise na Humanidade”.
A motivação, à partida, foi a campanha sórdida, em torno da pedofilia na Igreja. Denota fraquezas que precisam ser superadas. Vemos agora que só a verdade constrói. Não somos pescares de águas turvas.
Escrevi do ponto de vista da sociedade civil, como cidadão, com uma visão plural. É nesta perspectiva  que quero ser lido.

Dou novo enfoque à questão e proponho uma atitude corajosa e séria  de revitalização da Igreja. Ao final sintetizo as ideias em 10 (dez) propostas iniciais. Faço um apelo à sabedoria. Esta é a marca que tem de nos identificar, como pessoas pensantes, conscientes e consequentes.
O trabalho quer contribuir para a reconciliação de Igreja, com a Dinâmica social, numa sociedade plural.
Leia e comente. Somos todos responsáveis.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Forças e Fraquezas

FORÇAS E FRAQUEZAS DA IGREJA
Pedofilia, Um Caso Mal Ajambrado
J. Jorge Peralta

I - ALEGRIA, ESPERANÇA E OUSADIA

1. Falo neste estudo, de uma Instituição admirável e paradoxal: tem forças de gigante e fraquezas e debilidades de ovelha no pasto, vigiada por lobos. Abordo este assunto, excepcionalmente, pois este é hoje um foco secundário em minhas reflexões. Falo por apelo interior, não esperado.
Falo, da perspectiva de um cidadão, a quem tudo o que é humano sempre interessa.
As ideias que aqui exponho são desdobramentos de um longo trabalho que redigi: “Abalos na Igreja, Crise na Humanidade”, publicado no site blogue: www.alfa8omega.blogspot.com/abalos-na-igreja
            Falo, com respeito e ousadia, da Instituição mais antiga do Ocidente, a Igreja de Cristo. A Igreja que tem, como força matriz, a doutrina do Evangelho; uma doutrina que deslumbrou o mundo.
Cristo, na História, foi o ser humano que maior influência exerceu na humanidade, por sua doutrina de valores: a dignidade da pessoa humana, e a interação entre os humanos, com a superação dos egoísmos e da selvageria. Deu ênfase à alteridade: “amai-vos uns aos outros...” Insistiu na cooperação mútua e no altruísmo. Falou por palavras e atitudes. Foi convincente. Teve credibilidade.
Deixou uma mensagem de esperança para toda a humanidade, que estava  nas suas cogitações: “ide pelo mundo inteiro”. Almejou a fraternidade universal. Foi contundente: “Sede mansos...  sede astutos ...” “Saiam (...) vocês fizeram do Templo um covil de ladrões...”
Falo de uma Instituição que, em nosso País, tem uma história de belezas extraordinárias. Um paradigma mundial na construção da sociedade. É uma instituição viva, audaciosa e dinâmica.
            Falo de uma Igreja que, através de sua história, prestou serviços de tal monta à humanidade que bem pode ser considerada o patrimônio imaterial maior de toda  a Civilização Ocidental.
            Ela difundiu no mundo  a lei do amor, a solidariedade, a fraternidade, o respeito mútuo, a naturalidade e a espiritualidade. Alegria e esperança é a sua bandeira, na tempestade e na bonança.

2. Mas a mesma Igreja, em contradição com os princípios do Evangelho,  por fraqueza de seus representantes, também foi responsável por crimes bárbaros e execráveis, como as tristes tragédias da Inquisição e outras mais...
São os vícios humanos se aproveitando de uma Instituição de alta credibilidade, traindo seus princípios fundamentais. Consideraram-se seus donos e não seus serviçais. Daí o escândalo, os estragos e as dissensões.

            Falo aqui, de uma igreja sempre em crise, como toda a natureza viva e  como tudo que é humano; tem momentos de Primavera e momentos de Inverno.
           
Na Terra, a igreja não é composta por anjos, mas de seres humanos, com as fragilidades que lhe são próprias.
            Quando, por algum equívoco, quiseram considerá-la feita, perfeita e imutável, aumentaram suas crises, seus paradoxos e suas dissensões. A Igreja vive, naturalmente e sofre as agruras do seu mundo, porque é solidária com ele.
Diante de grandes embates, consegue manter-se de pé. É muito mais forte que seus “algozes”. Mas a Igreja não existe para vencer ninguém. Existe para convencer  as consciências e para  fazer irmãos. A força  da Igreja  é  a  Palavra e o Testemunho.
            A Igreja, como toda a natureza viva, vive seu percurso: um movimento de mudanças permanentes, adaptada aos ciclos vitais do universo. O transitório muda e o essencial permanece.
Vive tempos sucessivos e contínuos de Primavera, Verão, Outono e Inverno. Tempos de Natal e Epifania; Morte e Ressurreição; de Pentecostes e Difusão; de Consolidação, Fraquezas e Perseguições. Num mesmo tempo podem  ser vividas as quatros estações, pelos quatro cantos do mundo. Esta é a condição da vida entre os humanos.

3. Quero, aqui, realçar as forças dinâmicas da Igreja, que na sua matriz perene, sustenta-se na mutação, na diversidade e na adversidade.
          A Igreja nunca será uma instituição acabada. Ela se faz a cada dia. Sofre a cada dia as dores da vida. É uma Igreja composta e gerenciada por humanos e na por anjos. Precisamos reconhecer e aceitar esta condição.
Sofre as muitas fraquezas de muitos dos seus filhos, dos mais simples aos mais altos da hierarquia.
Numa sociedade doente, o vírus pode ferir todo e qualquer humano.
É natural que assim seja, como é natural que sempre rejeite o mal e opte pelo bem. Questão de opção... Questão de consciência...
Ninguém pode se espantar se um ou outro  eclesiástico  cometer algum deslize. É natural, numa instituição de humanos, numa sociedade doente.
 Padres, Bispos, Cardeais e até o Papa, podem errar. É bom que assim reconheçam. Faz parte da condição humana. Mas a Igreja jamais poderá compactuar com o erro. Deve pois detestá-lo e  corrigir os culpados. A impunidade é a mãe de todos os vícios, diz-se.
A alegria e a esperança sempre brilham no rosto da Igreja, nas mais desencontradas ou auspiciosas circunstâncias.
Esta é a  minha Igreja: tão humana que é divina e tão divina que é humana.

II – PEDOFILIA, CONSPIRAÇÕES E RENOVAÇÕES

4. Por tudo isto, é muito estranho o escândalo que se levantou, contra a Igreja,  porque foram  detectados casos de pedofilia, entre uns poucos padres da Igreja. Não foi levado em conta que a Igreja  vive a crise  e as dores e horrores de nosso mundo  desconcertado e às vezes  desconcertante.  
A Igreja é vítima e não culpada, nos casos de pedofilia que vitimou alguns de seus pastores.
Não é a Igreja que está em crise, no caso da insólita  pedofilia. Quem está em crise  é o mundo onde está a Igreja. A crise não está vegetando na igreja. Está vegetando no mundo  e por tabela, atingindo também alguns, muito poucos, membros frágeis da hierarquia da Igreja, em meia dúzia de países.  Uma parte mínima do clero... Mas um só caso já merece toque de alarme e tomada de decisões preventivas.
Num mundo onde se registram mais de quinhentos (500) casos de queixas de agressões pedófilas, por dia, os casos que atingiram a Igreja são, estatisticamente de valor nulo. Nem por isso a Igreja pode deixar de corrigi-los e puni-los.
A pedofilia é hoje uma praga social, atingindo centenas de  meninos e meninas, diariamente, por todo o mundo.
Em alguns países árabes, a prática é socialmente aceita, havendo “casamento” de adultos com meninas de 4 a 10 anos (?!).
Moralmente a sociedade, nos últimos 50 anos, foi atingida por “doenças” anômalas.
Corrijam-se os casos ocorridos na Igreja, mas sabendo que a Igreja é vítima de uma sociedade que vai perdendo princípios norteadores e se desgovernando. A sociedade, hoje,  já pede socorro, por tantos desmandos...

5. Mais grave ainda do que os casos eventuais de pedofilia, é o tratamento que a imprensa “sensacionalista” deu ao caso, agredindo escandalosamente a Igreja Católica, com insultos e injúrias, numa atitude persecutória  e discriminatória, que alguns classificaram como conspiração.
A notícia dos casos raros de pedofilia, na Igreja, foi trombeteada pelos quatro cantos do mundo, 24 horas por dia, em milhões de meios de comunicação. Uma verdadeira campanha de desacreditação: claramente uma conspiração muito bem articulada, em alguns centros de elaboração e seleção de notícias e de orquestração de pauta.
Certamente abalou a credibilidade da Igreja  em milhões de ouvintes. Quase uma chacina moral...
Não menos grave foi o tratamento  inábil que a Hierarquia Superior da Igreja deu aos fatos. Deixou-se acuar, por falta de visão de conjunto, contaminada por ideologias políticas espúrias, que não respeitam a presença da Igreja na Civilização e aproveitaram o ensejo para  tentar desmoralizá-la.
Não é a primeira vez que a vítima e julgada culpada.

6. No entanto, eu considero que mais importante do que as ocorrências da deplorável pedofilia, é que a Igreja aproveite o momento de “crise”, que a Providência lhe oferece, para repensar sua mensagem, suas estratégias e sua atuação, no nosso mundo atual, sem máscara  e sem retoque.
Nunca o mundo precisou tanto da Igreja, do Evangelho, como em nossos dias.
No trabalho citado no início do texto, enviado aos diversos  departamentos da CNBB, no dia 06.05.2010, faço umas dez propostas formais de revitalização da Igreja. Confira. Posicione-se.
A Igreja precisa aproveitar o grande abalo que acaba de receber, para rever sua estratégia  de Evangelização. Terá muita, muita coisa, para reconsiderar. A Providência convoca. Dizer não é deserção... “Por uma omissão perde-se uma nação”, diz o Grande Vieira.