quarta-feira, 2 de junho de 2010

Maratona

O MENSAGEIRO DA MARATONA
Quem tem o que dizer não pode calar-se

- Reflexão Preliminar -
J. Jorge Peralta

1
A VERDADE COMO CONDIÇÃO

Quando elaboramos certo trabalho é como quando plantamos árvores: Queremos que dêem sombra e frutos. Esforçamo-nos para que as pessoas tomem ciência  dos argumentos e reflexões que propomos. Mas o que propomos  não é nosso. Então compete a todos incrementar tais propostas, se forem realmente justas e  oportunas.
Certos anacronismos já foram longe demais. Fizeram estragos avassaladores...
O texto, “Abalos na Igreja, Crise na Humanidade”,  em alguns momentos, é abertamente  contundente, mas procura ser sempre muito cordato. Quer pensar junto. Expõe mas não impõe; nem claudica.
            Defende princípios, defende o bem da humanidade, defende uma visão espiritualista e humanista  da vida, numa posição plural.  Defende a Igreja  do Evangelho, como algo de extraordinário, no mundo. Propõe a sua revitalização permanente.
Considera que a Mensagem do Evangelho parece que, para muitos, virou rotina. No entanto, ele deve ser lido com o mesmo deslumbramento de quem observa, pela primeira vez, o esplendor do alvorecer do sol, em manhã de Primavera.
            Propõe um diálogo franco, leal e aberto.
Vivemos em tempos belicosos. Os contrastes e conflitos estão à flor da pele. Todas as grandes ideias e valores da nossa sociedade estão  na mira dos novos “comandos” ou de novas patrulhas. O que é indefensável deve ser descartado antes de desmoronar. Criticar o que é criticável é uma obrigação de quem sabe o que diz e faz.
Precisamos vencer o dogmatismo vazio de muitas autoridades. Pensar com responsabilidade e ousadia  é dever de todos. Precisamos estudar, estudar, estudar e ter a mente atenta. Denunciar ideias anacrônicas é atitude digna de gente generosa.  Negar o diálogo franco é autoritarismo anacrônico.
Criticar com lucidez é somar e multiplicar e não diminuir e dividir. O poder não exime a pessoa de errar. Criticar uma instituição, ou pessoa , não é necessariamente  desrespeitá-la. Respeitar alguém não significa  obrigar-se a uma aprovação irrestrita do que ele pensa e faz. Respeito é lealdade e verdade e não bajulação. É a verdade que constrói.
As pessoas de boa vontade não podem ter medo de ter opinião e de expressá-la. É a verdade que liberta.
Quem tem algo para dizer não pode se calar. Mas precisa ser razoável e respeitador.
O que falo aqui pode incomodar alguém. É condição natural. Não é possível agradar a gregos e a troianos. Quem a todos quer agradar, a todos desagrada, por falta de sinceridade. A pessoa  que trouxe a Mensagem mais revolucionária da história, agradou ao povo, mas desagradou a certos mandatários que foram à desforra no Palácio de Pilatos.
É sabido que a estrada da vida tem naturais tortuosidades...

2
MUDANÇA SIMPLES E ARROJADA

Na década de 60, quando trabalhei na CNBB – SP, como técnico, fui chamado pela equipe de Liturgia, dirigida, por Frei Luiz Gonzaga, um sábio franciscano, para participar da equipe de reformulação do Ritual do Matrimônio, dando-lhe uma linguagem mais atual.
Na redação final, a ser apresentada  ao episcopado, consegui que todos  concordassem, após muitos debates,  com uma mudança substancial: troca da fórmula clássica: “Até que a morte nos separe”, por:  “por toda a vida”,  uma fórmula  alegre, jovial e profunda. Fui convocado para, numa reunião do episcopado, discutir, juntamente com Frei Luiz, as alterações propostas.
Fomos sabatinados com muita seriedade.
As questões mais intensas foram sobre a mudança da fórmula  clássica e central , já citada. Defrontamo-nos com argumentos difíceis e complexos. Argumentei que “por toda a vida” é mais intenso do que “até que a morte  nos separe”. Que o amor é mais forte que a morte... Que Cristo veio trazer vida, etc, etc. O óbvio...
Ao final da sabatina, retiramo-nos, meio receosos de que a mudança não passasse... Todos achávamos a solução luminosa. Não queríamos que se perde-se. Não se perdeu.
 No dia seguinte recebi, comovido, um grande abraço de Frei Luiz, cheio de alegria: “O Novo Ritual foi aprovado...”. A vida venceu a morte, pensei. A igreja está rejuvenescendo...
Hoje, em todo o Brasil, e quero crer que em todos os países de Língua Portuguesa, é com essa fórmula que se chega ao ápice da Cerimônia Religiosa do Ritual de Casamento Católico. (“Por toda a Vida”)
Alegrei-me , discretamente, e continuei  o meu trabalho com a equipe. Foi um dia de muita alegria, como, aliás, todos eram. Vi muitos momentos assim... discretamente emocionantes...

Deste fato, tão simples, em si,  eu me convenci de que, em questões
sérias, nunca devemos falar gratuitamente, sem pensar. Mas, por outro lado, ideias bem pensadas e amadurecidas, não devemos nos acanhar de as propor à sociedade e a quem de direito. “O Espírito fala onde quer”.

           
3
TRAJETÓRIA DE UM TRABALHO RESPONSÁVEL

Este texto, “Abalos na Igreja”,  foi um trabalho intenso de mais de dois meses. Alegro-me porque o escrevi. Acredito que estou fazendo a minha parte, prestando serviço à humanidade. A Igreja representa uma parte significativa da humanidade.
Se a Igreja melhorar sempre, o mundo ficará muito melhor.
Precisamos cuidar mais da mensagem do que dos dogmas. Dogma sem Mensagem não diz nada.

            Este trabalho foi enviado na primeira versão, na 5ª Feira Santa - 01/04/2010, a diversos Departamentos da CNBB e a outras autoridades.
Recebi estímulos fortes e nenhuma “censura” nem  velada. De Lisboa, de um sábio Pe. Jesuíta, vieram-me os mais fortes apoios e estímulos. Os pastores teólogos têm mais sensibilidade. São mais atenciosos. Não são arrogantes. Mas os grandes teólogos também  podem ser bons pastores.

Prossegui o trabalho. Enviei-o, mais aperfeiçoado, a diversos Departamentos da CNBB, no início da última Assembléia Geral (4 a 13 de maio de 2010). Os Bispos são pastores e gestores. Precisam ouvir, mas podem não ouvir. Precisam de muito saber e mais sabedoria.
Sei que o trabalho que enviei exerceu alguma influência.
Diz Vieira que  o lugar privilegiado de o demônio se  refestelar é nas igrejas. Ele vai se imiscuir, disfarçado, entre os bons, para desviar-lhes o caminho...
É nas boas searas que o inimigo gosta de espalhar a cizânia.

Isto novamente me diz que a Igreja é, sim, o Povo de Deus e que “tudo vale a pena quando a alma não é, pequena”. Devemos falar, “oportuna e inoportunamente”.(II Timóteo 4,2).
A Mensagem não é nossa. Devemos repassá-la ao destinatário.

4
CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS ESTIMULANTES

Na Igreja, como em todas as Instituições, políticas, culturais ou religiosas, há “alas” distintas com posições eventualmente conflitantes, em termos de estratégias. Há também os que querem a Instituição imutável, com receio de perder vantagens pessoais ou grupais, ou com medo do mar tempestuoso...

Assim, certas afirmações  que marcam posicionamento, são rejeitadas por uns e exaltadas por outros. A unanimidade real é difícil e nem sempre é conveniente.
Todos os posicionamentos precisam ser considerados para que a Instituição não encalhe... Nem se quebre no próximo rochedo. A Igreja viverá sempre num equilíbrio instável, como tudo o que tem vida. As convergências e as divergências sempre nos acompanham.
Quando temos algo a dizer, não temos direito de nos calarmos. Mas precisamos ter convicção e sobriedade.
Precisamos  ser cuidadosos e fiéis como Mensageiro Filípedes,  após a batalha de Maratona, na Grécia Antiga.

5
PERSPECTIVAS

É com estas ideias que convido o leitor a ler este trabalho: “Abalos na Igreja, Crise na Humanidade”.
A motivação, à partida, foi a campanha sórdida, em torno da pedofilia na Igreja. Denota fraquezas que precisam ser superadas. Vemos agora que só a verdade constrói. Não somos pescares de águas turvas.
Escrevi do ponto de vista da sociedade civil, como cidadão, com uma visão plural. É nesta perspectiva  que quero ser lido.

Dou novo enfoque à questão e proponho uma atitude corajosa e séria  de revitalização da Igreja. Ao final sintetizo as ideias em 10 (dez) propostas iniciais. Faço um apelo à sabedoria. Esta é a marca que tem de nos identificar, como pessoas pensantes, conscientes e consequentes.
O trabalho quer contribuir para a reconciliação de Igreja, com a Dinâmica social, numa sociedade plural.
Leia e comente. Somos todos responsáveis.

Nenhum comentário:

Postar um comentário